Sobre a “surdez” dos conservadores aos críticos moderados…

Filipe Fontes
2 min readJan 24, 2024

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Tenho evitado falar sobre questões polêmicas no X, embora eu ensine sobre muitas delas em sermões e palestras em igrejas e conferências ao redor do Brasil. A razão é simples: eu penso que a configuração das coisas ali não favorece muito a reflexão e a sabedoria nas palavras, que todo cristão deveria buscar.

Deixo o silêncio virtual para levantar uma única questão. Como resultado dos eventos da semana passada, o meu amigo Guilherme de Carvalho, em tom de alerta, fez a acusação bem intencionada de que conservadores tendem a ser lenientes quanto a determinados temas e surdos aos críticos moderados.

Embora eu esteja disposto a discutir o conceito de moderação, acho que o alerta tem razão de ser. Como conservador, eu o recebo com boa disposição. Mas devo dizer que, para a turma de tendência mais progressista, críticos moderados parecem existir em uma direção apenas: da esquerda para a direita. E que, apesar das tendências diferentes, os progressistas sofrem da mesma surdez que, eventualmente, sofremos nós, conservadores.

Deixem-me exemplificar…

Também na semana passada, li um fio bem interessante do Fernando Pasquini, no qual ele relativizava o sentido do termo “complementarismo”; um termo reconhecidamente mais à direita do espectro, no debate atual. Meu ponto, aqui, não é discutir o fio do Fernando. E também não é identifica-lo um progressista. Eu ainda não tive o privilégio de conhecer Fernando e não tenho acompanhado, com frequência, as postagens dele. Menciono o fio apenas como gancho para o meu argumento. Imagine que um cristão conservador propusesse a necessidade de discutir o sentido atribuído a termos como “racismo”, “abuso” ou alguns dos seus derivados, como a complexa expressão “abuso psicológico”, por exemplo. Qual é a chance de que ele fosse recebido como um crítico moderado? Suspeito que mínima. A razão é que, se conservadores tem tendência a um cuidado/medo que pode conduzir à leniência, progressistas tendem a um ímpeto pelo avanço/coragem que, muitas vezes, conduz à precipitação. No caso do debate atual: ao apego a determinados termos e, principalmente, a suas definições, muitas das quais gestadas e desenvolvidas em contextos secularizados.

Sim, há, coisas que conservadores precisam rever. Mas isso não é exclusividade de conservadores não. E neste ponto levantado por Guilherme – a surdez em relação a críticos moderados ou audição seletiva – os dois grupos são muito mais parecidos do que parecem.

Antes de voltar ao silêncio, no mesmo espírito de boa intenção, deixo aqui o meu alerta, já feito. outras vezes: cristãos de tendência mais progressista precisam ser menos apressados na assimilação de termos e, principalmente, mais cuidadosos na redefinição dos termos que assimilam, para que termos imigrantes não cruzem as fronteiras do cristianismo de bagagens em mãos e os “contrabandos semânticos” obtenham o devido sucesso.

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